sábado, 16 de maio de 2009

Nada

"Em aba de chapéu velho só nasce flor taciturna.
Tudo é noite no meu canto.
(Tinha a voz encostada no escuro. Falava putamente.)
Estou sem eternidades.
Não tenho mais cupidez.
Ando cheio de lodo pelas juntas como os velhos navios
naufragados.
Não sirvo mais pra pessoa.
Sou uma ruína concupiscente.
Crescem ortigas sobre meus ombros.
Nascem goteiras por todo canto.
Entram morcegos aranhas gafanhotos na minha alma.
Nos lepramentos dos rebocos dormem baratas torvas.
Falo sem alamares.
Meu olhar tem odor de extinção.
Tenho abandonos por dentro e por fora.
Meu desnome é Antônio Ninguém.
Eu pareço com nada parecido."

Manoel de Barros.

Um bom estado para encerrar 2 décadas!

Boa descoberta mais pontos de exclamação.. rs.
Acabaram-se os dias de pessoa e não me venham com espiritualidades e "pensamentos puros".
Ótimo esvaziamento. Tão, tão vazia que é quase como se o vento batesse e levasse... e podia mesmo levar pra longe, bem longe... não sei pra onde. sei lá pra onde. nem quero também saber pra onde.

E quero também, mas como quero, fazer voltar esse modo de repetição que se faz com a palavra quando se escreve tentando ficar na estrutura sintática das frases do que se é falar e ser entendida ou escrever e se fazer entender como se isso fosse algo importante quando na verdade se trata de mais desconstrução de sentidos que, convenhamos, existem justamente para serem desconstruídos e deixar a ótima sensação de que não se entendeu nada.

?vazio
O nada é

Um comentário:

  1. acordo todo o dia e vejo o teto e não faz sentido nenhum...

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