domingo, 27 de dezembro de 2009

mais que acasos

Quando fui defender minha monografia, a primeira pergunta que me fizeram foi "qual a sua motivação em estudar esse tema".

a princípio, quando me interessei por meu assunto e até quando resolvi estudá-lo não sabia exatamente o que me levava até ele. na verdade, nem pensava que alguma coisa me levava até ele. pareciam acasos.

coisas que acontecem sem nossa previsão, sem um cálculo preciso e certo. nada racionalmente lógico e premeditado. eu simplesmente li sobre o assunto e comecei a estudá-lo.

é certo sim que algo me movimentava a não desistir, afinal é um tema complexo, difícil, talvez, para uma simples monografia. algo extenso e que, claro, não ficaria apenas nesse estágio, a monografia.

algo me estimulava e não me deixava sentir o cansaço ou o quanto tudo aquilo estava me sugando e interferindo em vários aspectos da minha vida. na realidade, acho que mexia e mexe até hoje porque a motivação não vem simplesmente de "acasos", ou meras coincidências.

já ao final, no momento de encerrar a pesquisa, as investigações, percebi que o motivo vinha de um lugar muito mais longe. muito mais longe do que eu mesma pensava.

as coincidências e os acasos foram feitos por mim para dar todo o aspecto informal e nada particular, e com isso não intimidar ninguém e nem levar as pessoas a pensarem coisas que realmente não eram o motivo. acho que fiz tudo isso de maneira quase inconsciente. veja bem, não digo "de maneira inconsciente", mas de maneira "quase" inconsciente. o "quase" vem da negação que coloquei pra mim mesma. era um movimento consciente mas que para ser amenizado, até para mim mesma, deveria parecer "quase" inconsciente, sendo muito mais casual.

a primeira mostra do meu real motivo surgiu quando eu não conseguia escrever o final da monografia. quando eu não conseguia finalizar as escrituras e juntar as partes daquilo com que eu trabalhara insistentemente e me dedicara sentindo o esforço em buscar compreender o máximo que podia. não era uma compreensão para mostrar aos outros, era algo mais individual. parecia uma urgência.

como saber isso, como sentir isso? quando percebi que as datas, de fato, não me preocupavam tanto quanto chegar a um ponto, que não foi pra mim suficiente, mas que era sufiente para os outros. "um trabalho impecável", como foi também a primeira observação feita desse trabalho.

isso me soou como uma certeza. uma confirmação do que meses antes eu estava descobrindo: minha motivação era algo particular e para mim não estava impecável porque ainda ficaram partes em mim que pedem por esclarecimentos. partes que pedem por calma ou por especulações, se as "calmas" não vierem.

meses antes, ao começar a finalizar a monografia, senti uma dificuldade tão grande que ainda não tinha sentido durante o um ano e meio que pesquisava. escrever me pareceu mais difícil e árduo e me deixou mais assutada do que ler em outros idiomas livros inteiros e autores complicados, mesmo quando tudo parecia tão claro dentro da minha cabeça.

foi ai que cai perplexa diante do teclado e entendi que toda a minha repulsa era por algo ligado a minha vida particular que não havia se resolvido ainda. algo que para mim estava pendente. entendi que tudo aquilo fizera parte desses dois anos de estudos, e mais que isso, era uma necessidade mais profunda. ela vinha de longe.

responsável pelos acasos, responsável pelo interesse a princípio despretensioso, pela motivação, responsável por manter a vibração e por não sentir que estava, ao final, um trabalho impecável. apesar de bom, não está finalizado.

acho que a escolha da minha profissão, da minha faculdade, que até hoje é algo estranho pela forma como foi escolhida, vem de algo muito mais longe do que posso ver. do que podem ver os outros. vem de uma necessidade profunda. um desejo profundo que me conduziu até aqui, até onde cheguei.

algo profundamente enraizado em mim que não tem relação com acasos e nem com fatores externos.

É preciso, sim, foi preciso.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Antes que o ano acabe...

... e eu perca novamente a conta dos dias! que cai do meu bolso junto com outras coisinhas.

Agora, tenho que escrever para me lembrar que hoje é.. sexta-feira, dia? hum, dia 18 de dezembro. Nossa! Dezembro já?? Já está indo, acabando... Ai.
Mas parece que está tudo bem... Desde um tempo (ia escrever "desde alguns meses", mas ai pensei se realmente é essa a quantidade certa de tempo ou se por acaso estaria equivocada. então tentei pensar num tempo estimativo, mas ai.. já não sei quanto tempo..), quer dizer, pensando bem, desde a primeira semana de novembro - é, é isso mesmo! agora sei porque sei que até esse dia eu tinha que obrigatoriamente ter noção exata dos dias e principalmente dessa semana, a primeira de novembro. depois do começo de novembro me perdi no tempo.
(Parágrafo recuperado)
Então, como estava dizendo, desde um tempo, mais ou menos um mês e meio, eu me perdi no tempo.
Tive essa abertura - agora, nesse momento - de lucidez. Agora sei realmente, de fato, em qual dia estou.
A questão não era de não se lembrar, simplesmente. A questão passou a ser a de não conseguir se lembrar e não conseguir querer se lembrar ou ter força suficiente para se lembrar. De não ter o mínimo interesse em lembrar o dia do mês e da semana. Como se tudo fosse um eterno contínuo.
A semana sem fim e sem começo. O mês que não acaba, ou que é tudo um só mês.
De repente, pra mim estava assim, tudo era a mesma coisa.
Entrei em outra contagem do tempo: a não contagem do tempo.
Perdi mesmo a noção de que se tem hora pra dormir, e com isso percebi que a hora de dormir é um importante marcador temporal, quase inconsciente.
Eu estava dormindo a qualquer hora. Ou melhor, estou dormindo a hora que me dá sono, a hora que decido dormir. Não troquei o dia pela noite, como já é bem conhecido e como também é um hábito bastante criticado.
Simplesmente durmo quando quero. A qualquer hora.
Bom, isso também não é pra qualquer um, afinal quem tiver problemas com o sono, insônia, etc, não coneguirá acordar às 8:00 da manhã, dormir de novo às 11:00 e acorda às 14:00 e depois disso bocejar de sono o resto da tarde até não ver a hora de cair na cama novamente. E não que isso seja uma rotina, pois se acorda às 4:00 da madrugada, surge uma vontade de fazer algo útil, se faz algo útil, depois essa utilidade te desgasta tanto que já é hora de dormir de novo. E ai se levanta às 7:00. Acabou o sono. Ai vem as 15:00 toda sonolenta pedindo colo, o colo do travesseiro, e então, quem resiste? Lá se vai até as 18:00 ou 19:00. E depois... bom, depois continuam-se as horas e o sono fazendo intervalos um com o outro e me mantendo viva. Ora de olhos abertos, ora de olhos fechados.

É engraçado o quanto isso me faz perder a noção do tempo.
Durmo em um dia e de repente acho que é outro, mas não é, o calendário mostra que é o mesmo dia ainda. Ai, quando penso que não, estou em um outro dia e pra mim essa passagem não significou nada de especial. Não mudou nada.
Quem precisa dessa marcação? Já fiquei pensando nisso... 
rs..

E é um absurdo pra mim ouvir as pessoas dizendo "boa noite, amanhã é um novo dia", ou "boa noite, estou cansada e amanhã é cedo", ou então "dormir porque amanhã é um dia normal, como todo dia",  pior ainda "vai dormir menina, senão amanhã você não acorda".
Hum?
Mas, quando me dizem isso eu lembro de olhar no relógio. Olho e penso, "novo dia? daqui a algumas horas ela vai se levantar e isso será um novo dia? só porque ela dormiu? e eu se ficar acordada até a hora em que ela levantar eu verei o novo dia chegar? e por que "vai dormir menina, senão amanhã você não acorda"? e se eu dormisse 24hrs seguidas, não seria um dia inteiro?"
Ah, um dia tem 24 hrs. Mas, se eu durmo das 14:00 hrs do dia 20 e acordo às 15:00 do dia 21 eu não terei dormido 1 dia, terei dormindo 2. Que coisa não? Pelo menos é assim que todo mundo considera.
E se eu faço como faço desde a primeira semana de novembro, durmo a hora que quero, as pessoas dizem "está com problemas pra dormir?" Não! Por que estaria? Porque não durmo a noite? Ou porque não troco o dia pela noite?

Enfim, nem ligo para elas, basta fechar os olhos e dormir. Nem ligo porque a melhor parte é dormir. Elas são um saco! Tadinhas. Acho que "um saco" sou eu. Então, nada melhor que dormir!
Você não causa preocupação a ninguém porque não está longe, na rua, ou sabe-se lá deus onde!; você não ouve reclamações, porque está dormindo; você não precisa ficar conversando com ninguém e sorrindo para as pessoas ou, pior que isso, puxando assunto; você não tem que fazer nada e ninguém está muito preocupado com isso, pois não é que você só dorme, você produz e faz as coisas como sempre fez, só que em horários diferentes; e os outros também não precisam ficar te olhando e te aguentando.
Se sentirem saudade, basta ir ao quarto devagar, pé sobre pé - por favor, não me acorde! - e me olharem. Ai vão dizer, ou pensar, "dorme como um anjo", ou "parece um anjinho dormindo". Essas coisas que os pais, parente e amigos dizem quando a criança está dormindo, que se traduzem como: "Que bom, ela está dormindo. Está quieta e não me enche o saco. Assim fica até bonitinha!"  Hahahahaha..

Pois é. por isso perdi a noção do tempo. Pra mim é um contínuo enterno no qual não vejo marcação alguma.
Tanto faz se hoje, amanhã, depois, ontem.
Cai no abismo temporal. e só existe um dia.

Sou um cronópio.



"Quando os cronópios cantam suas canções preferidas, ficam de tal maneira entusiasmados que frequentemente se deixam atropelar por caminhões e ciclistas, caem da janela e perdem o que tinham do bolso e até a conta dos dias."

Costázar

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Um mês - Intervalo

Cinco meses.

"A casa estava arrumada. Do jeito que ele gostava. Havia passado a tarde dedicando-se a tirar o pó impregnado dos móveis, limpando os porta-retratos, esfregando o chão de suas imundícies até sentir que as mãos estavam trêmulas e não obedeciam mais. Tomou cuidado para que cada canto, cada entrada e cada saída ficasse impecável. A casa não era grande, mas depois de todo lixo expulso, parecia maior. E agora, quase imaculada não fosse a presença dela, a casa era só solidão. Porque até a sua presença estava cheia de solidão. E ela esperava, torcendo as mãos e observando as luzes da rua, a chegada dele. Sabia que seria intempestiva, por isso arrumava a casa, uma, duas, três vezes, para que ele pudesse despejar sua bagunça.




Era assim sempre.



A casa pronta, as três batidas, ela saltava do sofá e abria a porta. Tudo se modificava. A casa branca enchia-se novamente. As cores trazidas por ele riscavam o chão, a mesa, a janela, o quadro, o teto, a cama, o tapete, os lençóis. Quase cegando-a.



Já na porta, os pedaços de seu desarrumado começavam a ficar pelo chão. Ela apenas dava passagem para ele pudesse entrar e observava a poeira deitando novamente sobre os móveis.



Era como um vento.



As folhas de papel cuidadosamente empilhadas na escrivaninha saltavam e eram levadas para fora da janela. Um a um os porta-retratos estilhaçavam-se no chão. Não era mais só uma casa, era um emaranhado de palavras, sons, luzes e visões desconexas. E ele agigantava-se vertiginosamente aos olhos dela.



Ouvia o som dos vidros serem quebrados longinquamente, de lençóis sendo rasgados e sentia o cheiro da lama misturado ao cheiro das rosas esmigalhadas. Havia uma brusquidão nos gestos, que a cada movimento acertavam-lhe um soco no estômago, mesmo sem tocá-la.



Ele nunca a tocava.



Ao mesmo tempo, havia certa suavidade na voz, como que parecida com uma carícia sutil. Seus olhos sugavam-na, chamando a misturar-se a ele, a compartilhar da desordem das coisas. Aquela desordem que parecia imiscuir-se nele.



Por um segundo, apenas e somente por um segundo, que ficava suspenso no ar, ela deixava-se mergulhar, e neste segundo podia ver caleidoscópios rodopiando, portas que se abriam estrondosamente, vozes misturadas, e mãos de mil cores tocando-a.



Então ela se dava conta de que ele era feito disso, ele era isso. A desordem das coisas, as mil cores, as mil vozes, as mil portas. E o aceitava como quem aceita uma criança em seu ventre.



— Eu te aceito. Te aceito. — as únicas palavras no meio daquela noite, ditas sem deixar escorrer um único som.



Agora ele estava dentro dela, correndo por suas veias, atravessando suas conexões nervosas e remexendo suas entranhas, pulsante, pulsante.



Ela era a casa. A casa que ele desarrumava. Deixando em cada pedaço de espaço, o pó viscoso de sua imensidão. E dentro dela ele se arrumava e reconstruía cada parte sua.



Abandonava ali, a lama e a brusquidão, para se tornar suave, quase harmonioso outra vez.



Ela ouvia então um grito quase mudo que se esforçava para sair da garganta de alguma coisa. E como num parto, ela o expulsava de si, como num parto que faz nascer, brotar, jorrar.



Ele nascia novamente, limpo, puro de todas as durezas, pecados e da loucura suja – nem toda loucura é suja, assim como nem todo mal é ruim – para sair pela porta e deixá-la novamente sentada no sofá, as mãos se torcendo e os olhos espiando as luzes da rua.



Ele havia partido, estava sozinha. Ela e casa, que já não era mais ela. As cores apagadas e o silêncio. A casa que ela tinha que arrumar. Pois sabia que ele viria novamente no outro dia."

Anne Luisa Nardi






Quatro anos.


"Vinha trazendo no coração uma mágoa antiga que só fazia doer. Não sabia o que fazer com ela. E como apertava... E como doía... Ficava ela ali no canto esquerdo, bem quieta. Dava os ares de sua graça nas horas mais impensáveis. E como manchava... E como mexia... Pulava no peito como bola desgovernada que desce a ladeira sem olhar para os lados. Queria esquecê-la. Queria traí-la. Trancá-la lá fora sem pena da chuva. Deixando-a molhar como pano de porta, que sem borda aos poucos se encharca. Queria poder juntá-la com as mãos e com desespero de marujo perdido, arrancá-la para fora do barco. Deixá-la à deriva em companhia das ondas. Ela que se salvasse. Que se afogasse lentamente na imensidão fria dos mares. De longe eu acenaria em meu iate invencível, lamentando por não ter feito isso há mais tempo. Feliz por ter extirpado todo o tumor. Chegaria em casa tranqüila, talvez cansada da viagem. Tomaria uma Novalgina e iria cheia de graça pra cama. Sonharia com cores impossíveis e palavras ainda perdidas. Acordaria plena. Descansada. Completamente feliz. Escreveria meus versos roubados do invisível e ouviria os sons capturados do mundo. Prosseguiria vivendo a procura do irreal e do permitido. E seria feliz se não fosse a falta que se alojaria no peito clamando pela mágoa uma vez perdida, a reclamar junto com a lua sua ausência."

Alice Venturi


E ai se foi um mês, e ainda é dois mil e nove.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Alucinação

Eu não estou interessado em nenhuma teoria,
em nenhuma fantasia, nem no algo mais.
Nem em tinta pro meu rosto
ou oba oba, ou melodia
para acompanhar bocejos
sonhos matinais...



Eu não estou interessado em nenhuma teoria
nem nessas coisas do oriente
romances astrais.
A minha alucinação
É suportar o dia-a-dia.
E meu delírio
É a experiência
Com coisas reais...



Um preto, um pobre
Uma estudante
Uma mulher sozinha
Blue jeans e motocicletas
Pessoas cinzas normais
Garotas dentro da noite
Revólver: cheira cachorro
Os humilhados do parque
Com os seus jornais...



Carneiros, mesa, trabalho
Meu corpo que cai
Do oitavo andar
E a solidão das pessoas
Dessas capitais
A violência da noite
O movimento do tráfego
Um rapaz delicado e alegre
Que canta e requebra
É demais!...



Cravos, espinhas no rosto
Rock, Hot Dog
"Play it cool, Baby"
Doze Jovens Coloridos
Dois Policiais
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida...



Mas eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nem no algo mais
Longe o profeta do terror
Que a laranja mecânica anuncia
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais
Amar e mudar as coisas
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais...



Um preto, um pobre
Uma estudante
Uma mulher sozinha
Blue jeans e motocicletas
Pessoas cinzas normais
Garotas dentro da noite
Revólver: cheira cachorro
Os humilhados do parque
Com os seus jornais...



Carneiros, mesa, trabalho
Meu corpo que cai
Do oitavo andar
E a solidão das pessoas
Dessas capitais
A violência da noite
O movimento do tráfego
Um rapaz delicado e alegre
Que canta e requebra
É demais!...



Cravos, espinhas no rosto
Rock, Hot Dog
"Play it cool, Baby"
Doze Jovens Coloridos
Dois Policiais
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida...



Mas eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nem no algo mais
Longe o profeta do terror
Que a laranja mecânica anuncia
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais
Amar e mudar as coisas
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais...



Belchior
 
 
Como sempre, incrível e simples.
Tudo o que é comum - talvez só pra mim: essa música e Belchior!
Ai, ai, essas terças...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Eu, feita de azul..

"Chore, querida. Hoje o dia precisa ser lavado por lágrimas derrubadas de olhos tão gentis, provocadas por sentimentos sinceros e sensações eternas. Então, chore. Lave o céu cinza do inverno e transforme tudo num raio de sol colorido, que consiga alcançar todos em quem você pensa hoje.


Aproveite o teu dia, e faça o que quiser, até mesmo chorar. Ele vai demorar mais um ano pra chegar de novo, e até lá as lágrimas não terão a mesma cor que tem hoje."


palavras lindas escritas por M.




Eu,










que sou feita de azul!


domingo, 8 de novembro de 2009

Eu e o Trem Azul

Tudo o que ainda há de vir
É tão pequeno quando se quer unir
A pergunta surge
Alguém às vezes a responde

Mas com um sol na cabeça
Uma folha jovem na mão
Olho no ar uma pena
E tudo se perde na imensidão

Nesta cena passa a nuvem
Passa a montanha, corre o trem
No espelho sou o que fica
Eu e minha imaginação tão rica

Achando-me um bobo desde então
Iludido num mundo cru
num banco de estação
ainda esperando pelo Trem Azul

Pablo

sábado, 7 de novembro de 2009

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Eu sinto tanto por isso - I

=|

Essa estranheza da vida, que a qualquer momento deixa de ser vida, me assusta cada dia mais.

E eu sinto tanto por isso.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Uma estranha

Vida, vida... quão estranha é você?
Quão estranha você pode ser que, em um instante se vive e daqui a pouco se morre?
Como pode...? como posso me sentir tão viva se daqui a pouco mais um morre?
Se alguém do meu lado deixa a vida no mesmo instante de vida que cresce a minha?
Se toda a sua dubiedade volta e me aparece?  ...tão frágil você.
E esse nó na garganta.
Por que?

Isso dói. Já sei que dói. Fére, machuca.
Começamos pelo final. Enterramos nossos amigos.
Se a ordem "natural" seria crescer, casar, ter filhos e depois enterrá-los. E depois morrer.
Estamos do aveso, então.
Começamos nos enterrando.

O Poço

Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profunduras da tua existência.

Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?

Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.

Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.

Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.

Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.



- - -



Só.
As vezes amanheço, e minha alma está úmida.
Soa, ressoa o mar distante.
Isto é um porto.
Aqui eu te amo.

Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte.
Estou a amar-te ainda entre estas frias coisas.
As vezes vão meus beijos nesses barcos solenes,
que correm pelo mar rumo a onde não chegam.

Já me creio esquecido como estas velha âncoras.
São mais tristes os portos ao atracar da tarde.
Cansa-se minha vida inutilmente faminta..
Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.

Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos.
Mas a noite enche e começa a cantar-me.
A lua faz girar sua arruela de sonho.

Olham-me com teus olhos as estrelas maiores.
E como eu te amo, os pinheiros no vento,
querem cantar o teu nome, com suas folhas de cobre.

Pablo Neruda

sábado, 31 de outubro de 2009

Queria ter uma bicicleta.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Cactos I - II - III

Às vezes me sinto fraca. Me dá vertigem. Vontade de cair. Como um atordoamento. E então, giro em torno da minha própria fraqueza e tomo toda consciência dela, sem oferecer resistência pois quero me abandonar.
Nessas vezes é difícil suportar o menor incidente, por mais insignificante que ele seja. Por mais estúpido que possa ser a reação de reagir a ele. É nessas horas que perco a força.
Fala entre-cortada por pausas. Insistentes pausas atrozes que, talvez, para olhos mais atentos revelam alguma humilhação e obrigação. São pausas desconexas que contam o horror de ser fraca diante de uma força superior que empurra para baixo e fecha as saídas.
Longos silêncios necessários para que eu recobre o fôlego diante de uma força maior, opressora. Meus silêncios em que não consigo respirar. Silêncio que me dispersa e furtivamente escapo querendo encher de ar meus pulmões.
Fraca, diante de uma força superior. Vertigem. Atordoamento. Vou cair, quero cair. Não posso, não é assim que desejam que seja. Forçosamente me mantenho em pé. Continue andando. Lentamente, entre um passo e outro do que querem há um titubeio e os pés indicam outro caminho. Corrige, volta. São também meus momentos furtivos de uma fuga mal planejada, ou uma tentativa agoniante, mas quietinha, de tirar o peso que colocam.
É só um pouco de ar...

Sob o sol, à luz do dia as coisas se encaixam e parece tudo voltar ao normal.
Ao fechar os olhos pra dormir, tudo errado. Está tudo errado e fora do lugar. Não dará tempo, não tem saída, o fim é um retorno constante.
Retorno sempre.
Como a beleza. O belo sempre retorna em sonhos, imagens, lembranças, gostos...
Belo.
Um oásis onde mergulho. É um jogo de estética e imaginação que preenche os cantos da minha vida. Que puxa minha alma para fora e me faz sentir plena, cheia. É do belo que preciso para deixar que minha alma invada sempre meu corpo e o envolva em um encantamento mágico.
Beleza que me enche de vida, que me resgata a alma encolhida ainda, fazendo-a percorrer pelo meu corpo em frações de segundos para sair pelos poros. É o belo que me liberta da angústia e que renova meu desejo de viver.
Arte.
É ai que encontro o belo. A maneira que acho de expressar beleza. Me encanto com o belo, a beleza do céu, do mar, da flor. Arte abre espaço pra que eu possa expressar beleza e participar desse movimento.





Um encontro apoiado sobre um erro.
Mas de quem era a culpa? Poderia sair alguém culpado daquilo?
A culpa não partia do encontro, tanto é que muito amor existiu. Não partia dessas pessoas, de seus comportamentos e nem dos sentimentos que transitavam dos fatos externos.

"O acaso tem mágicas, a necessidade não. Para que um amor seja inesquecível, é preciso que os acasos se juntem desde o primeiro instante, como os passarinhos sobre os ombros de São Francisco de Assis."

O cotidiano está repleto de acasos geralmente não percebidos. Não há como medir esse tipo de escolha porque no amor não há a exatidão de uma certeza, ou termos de comparação. No amor tudo se vive pela primeira vez. E sem preparação.
É esse momento em que "pássaros do acaso" pousam em nossos ombros. Os olhos podem até marear-se, mas de uma infinita felicidade, transbordante.

Pousaram os pássaros e você se tornou inesquecível. Saudade. Acho que é por isso. Um amor tão belo e nascido do pouso dos pássaros em nossos ombros. Foi a força desse acaso que me deu coragem para mudar. E até agora estou impregnada por seu brilho. Que brilha e não me deixa esquecer.
Acasos. Beleza. Amor.
Memória. Retorno.
Volto sempre a esse amor. Recente? Talvez nunca saí. Não sei se todo o amor imenso que sinto vem apenas daí. Mas chego quase a achar que sim.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Vida. Suave. você, eu, ele e nós.

A vida é linda!






E hoje, final de outubro, eu só queria dizer isso =)

Linda, linda, linda!



Estou viva, como não ficava a anos...!




VIDA!






Por mais difícil que seja, consegui tudo isso porque fui atrás e é ótimo ver as coisas acontecendo, principalmente por saber que você faz parte delas. ah!
Que bom, que bom! Isso talvez se chame plenitude =)
Estou plena, cheia. O vazio foi embora...aff, chega, não? Chega de vazios por hora..
Sorrir, e rir e rir e mais sorrir.

Ultimamente, a meses, ando mais atrapalhada. Tudo que pego derrama, cai, arranha, desmancha. Já derramei café em todos os meus pertences, incluindo bolsa, caderno, livro, óculos de grau - acredita? -. E assim vai mais uma lista enorme de coisas derramadas: o ouro da porcelana, que é pouquíssimo e caríssimo; quase um litro da minha tinta branca; cerveja, já é quase de lei, e pior que é no começo hein; leite e água e mais água.
Hoje mesmo, em um movimento que não sei como fiz tudo aquilo para colocar mais aquele outro aquilo naquele lugar, derramei água nas coisas, no lugar e em mim. rsrs... Normalmente se fica nervoso, irritado, ou pelo menos contrariado. Mas, como faço desde que comecei a derramar as coisas por ai, comecei a sorrir. Ai, ai, só eu mesma pra fazer isso.
E o melhor é que isso não é ruim, é bom.
A alguns anos atrás eu era assim. Além de derramar eu quebrava tudo que era quebrável, porque tudo que chegava até minhas mãos ia direto para o chão. O que eu tinha? Não sei. Nada de errado com minha locomoção ou coordenação motora. Sei lá. Coisas de gentes desastradas.
Enfim, parei com isso. Fiquei sistemática. Era difícil ouvir tanta reclamação. Cuidar melhor das coisas.
Hum... mas fazer o que se não estou nem ai mesmo. E se esqueço que na minha mão direita tem uma garrafa aberta que pode derramar o que tem lá dentro? É bom esquecer disso as vezes, pois não é sempre que se tem o privilégio de poder esquecer.

Ah, a sua suavidade... tornou a minha vida mais leve, porque só faltava uma coisa para isso: você, que é suave. Não leve, leve, leve até se tornar insuportável. Mas, suave! Era essa a palavra que sempre busquei mas que escapava, e então sempre me impunham o leve. O leve por si só se torna insuportável.
E não é isso que melhora as coisas. Ao contrário, piora. O insuportável já ultrapassou o limite do "tolerável". E tolerar já é sinal de desgosto.
Você é suave.
E se tornou uma chave que abriu vários aspectos em mim. E olhando ao redor, olhando todos, tudo, chego a conclusão que só você seria capaz disso. Só você - no meio desse tanto de gente desnorteada, desequilibrada, ou tensa demais, ou "leve" demais - só você poderia me mostrar isso sem dizer uma palavra, mas apenas sendo você. Apenas agindo.

Suave.

Você me fez lembrar o que eu tinha esquecido. Me deu a chavezinha que faltava para eu entender algumas coisas e saber a diferença. Eu sabia que faltava algo, eu sabia. Eu sabia que não era bem aquilo. Sabia que o que me fez ficar tão maravilhada a quatro anos atrás não era o "leve" ou simplesmente a liberdade. Porque, afinal, liberdade é um tanto vago ou, no mínimo, controverso.
O que me encantou naquela época e o que nos fazia dar tão certo e sempre voltarmos era a suavidade, que os dois tínhamos.
Suavidade em meio a tudo aquilo, a tanta gente, a vida inteira..rs
Uma praia, uma rede, uma plantação de côcos e a gente vendendo côcos, depois do pedido mais engraçado e bêbado de "quer casar comigo?". Eram os planos..rs, levados a sério na... na... qual potência mesmo?
Acho que éramos muito bêbados, e bons. Não éramos leves, como se uma brisa nos levasse. Éramos suaves, e ai amplio, éramos todos, os cinco, suaves.

Mas, por outro lado, agora, depois de nós, eu posso voltar a ser suave. Antes eu não podia. Coisas dolorosas, pesadas, que não eram pra ser mas que se tornaram tão pesadas para mim, sozinha, carregar... ah, não deu.

Depois, outro amor. Era pra ser leve. Não foi. Pesou. Doía o estômago. Doía a cabeça sem parar. Doía a vida, quase o respirar. Estava tudo vazio, saindo de mim os últimos fôlegos de um amor belo e doloroso. Cansado. Um amor que era pra ser libertário. Me aprisionou em todos os sentidos. Agora começo a sair de todas as prisões.
Talvez se não fosse doloroso... pra mim, pra ela e pra tanta gente mais... e talvez se não fosse tudo jogado em cima de mim de uma vez só..! Mas agora é bom, pensando por outro lado. Bom porque ficou só a parte bela desse amor. O doloroso passou. A dor no estômago não voltou, a cabeça dá sempre bons sinais, e a plenitude, minha plenitude, voltou. Estou cheia novamente. E livre.
Agora livre do amor doloroso, da culpa pesaaaada, do julgamento familiar, das tensões e confusões mentais, do pânico, da vigia, ou da responsabilidade pela morte de alguém. Principalmente livre da responsabilidade pela infelicidade de alguns.
Eu sei me renovar.

Livre!

Livre com minhas lembranças. Penso em quatro anos atrás e vejo tudo sem me sentir presa. Passei para outro patamar. Amo-te, com certeza, mas agora você se libertou de mim e eu de você. Em dimensões totalmente diferentes. Sinto todo o amor, mas do jeito que sempre amamos um ao outro: livres.
A morte me deixou presa a você, não sei porque ainda. Fico pensando horas e horas sobre isso. O por quê. Sempre pensei e ainda não sei. Mas antes de achar a resposta, me libertei. Não quando achei que me libertaria, aliás, naquela época achei que me libertaria de tudo, e não foi bem assim. Continuei agarrada a você, sem conseguir não chorar muitas vezes. Até agorinha, sem conseguir não chorar um choro com algo de amargo misturado com in-conformismo.
Mas sabe, eu vivi um grande amor, bonito e maravilhoso! Desses que realmente você nunca esquece. E - quem diria hein - foi o primeiro! Pensando bem, eu vivi isso. Por mais triste e doida que seja sua partida eu fui privilegiada com sua chegada. E sei que você nunca parte definitivamente de mim.
Um amor lindo e sem dor.
Você era, e ainda de uma maneira um pouco diferente continua sendo, o meu lugar de volta. Um aconchego. Eu sabia que você estava lá e isso não significava um aprisionamento, ou satisfações. Você nunca foi leve a ponto de escapar ou de deixar o peso só para mim ou para os outros. Também não tomava as dores alheias, mas estava ali com o alheio.

É como você ontem, sem entrar no que eu fazia para poder estar comigo, com o alheio. Você deu a volta pela minha frente e sentou ao meu lado. Estávamos ontem, e semana passada também, com o alheio. Isso parece suavizar as coisas. E isso transcende ao momento, pois é todo um jeito de ser.

Vida. Estou feliz!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Que guapa, niña!

Quem imaginaria sua aparição, ainda mais naquelas circunstâncias: uma tarde de terça cansada com nuvens anunciando chuva e folhas secas que não paravam de voar ao nosso redor. rs.. coisa boa.
Foi assim semana passada.
Você chegou falando, falando baixo, mas falando. Fiquei a princípio inerte te olhando, um tanto assustada com você ali, na minha frente falando comigo. Essas coisas me assustam, quando pessoas chegam do nada, te vêem fazendo algo de forma alheia ao "em volta", para em seguida tirar toda sua concentração exigindo a sua atenção para algo totalmente diferente. Pessoas fora do contexto - seu - e que também não querem entrar - nele. Invés disso, trazem um contexto totalmente novo que chega até a te desnortear.
Foi assim que me senti: um desnorteio só com toda a sua falação!
Mas, olhei ao redor, via as folhas que você acompanhava com o vento, vi você sorrindo e me senti tão bem! Como se já estivesse ali conversando com você por horas, mesmo quando era você quem falava mais. Eu geralmente sorria.
Passado o choque a conversa fluiu, e agora ríamos juntas como se toda a graça do mundo estivesse ali também, naquele mesmo momento.
Quem via ficava olhando. Uma mulher achou interessante, de certo, e se aproximou ameaçando um sorriso. Talvez fosse contagioso esse momento ou talvez ela quisesse se contagiar pelos nossos sorrisos.
Ela perguntou se éramos irmãs, ao que respondemos juntas, "amigas". Tão espontânea resposta que pareceu a coisa mais certa do mundo.
E ela continuou, "o cabelo, os olhos, o jeito e a conversa tranquila... não parece não serem irmãs." Conversou um pouco e depois saiu. Você disse e riu em seguida, "você é igual a mim".
É, olhos pequenos, cabelos cacheados, mesma tonalidade de pele e cabelo, ... E como tomada por uma curiosidade i-medida você se aproxima e pega no meu cabelo. Talvez fosse engraçado ver outros cachos tão parecidos.

- - -

De novo, em uma tarde goianiense e agora muito quente, você aparece lá de longe. Fica lá, olhando. Eu nem tinha te visto ainda.
Naquele calor quase insuportável, o sol ardia sem piedade. Eu toda suja, você toda limpa. E o mesmo sol parecia mais suave perto de ti. Dava vontade de participar daquela suavidade.
Foi bom, a semana que passou, mas confesso que de ti nem recordava até... até hoje. Uma nova semana e você de novo me olhando. Dessa vez deu tchau de longe. Eu fazia muito barulho e poeira, e você toda de branco sorrindo.
Com toda aquela poeira podia sujar seu vestido!
Hoje, os cabelos soltos, cachos tentando acompanhar o vento, e você de longe olhando como se perguntasse como chegar mais perto.
Pronto. Parei de fazer poeira e barulho, e quando levanto a cabeça você já está a menos de um metro! O susto foi menor, acho que me acostumei com o seu jeito sorrateiro de se aproximar.
Você de cima sorriu: "Quanto barulho! Dá para ouvir desde longe." "É, mas agora parou. Ficou só a poeira, que ainda tenho que fazer."
Só um pouco mais calada, ficou olhando o que eu fazia e vendo minha concentração. Na verdade, acho que percebeu que eu queria terminar logo pois, esperta como sempre, já disse de pronto: "É o mesmo de semana passada, mas agora você já está terminando."
Uh, que alívio! Realmente estava.
Sabendo que você ia falar mais que eu, continuei. E você percebeu que eu queria, mas que eu não podia falar tanto. Tinha que terminar.
Então, silenciosa, passou pela minha frente e sentou-se do meu lado. Disse, "Assim você pode me ouvir e terminar." Graciosa. Sorri.
Hoje você queria mais me ouvir, que falar.

Radiante, você aparece mais uma vez para salvar minha tarde de terça e me impregnar de uma razão simples de existir: sorrir.
Você acalma as coisas. Me faz pensar que elas estão onde deveriam estar. Que elas seguem seu rumo e que este, por sinal, deve ser seu rumo certo.
O "adeus" da semana passada pensei ser mesmo pra qualquer dia que provavelmente não chegasse. Mas você apareceu novamente e olhou onde eu estava, esperando que ali eu estivesse.
Faz sentido o que senti hoje de novo. Foi uma felicidade te ver sorrindo e acenando de longe. E você veio, sentou ao meu lado e ali ficou.
Não foi só o sol que ficou mais suave com a sua presença. Tudo ao redor, quando você se aproximou, todo aquele momento, e eu: suaves.
E assim eu estou até agora.

Ainda estou rindo sozinha... Só você mesmo pra falar o cubano que não é espanhol.
Queria ter dito hoje como estava bonita, "Que guapa!!" !
Você entenderia? esse espanhol que não é cubano... rs, niña?

domingo, 25 de outubro de 2009

Uhh, o campeão voltou!!!

Salve o Tricolor Paulista!

Meu São Paulo ganhou =D
Quem achou que não seria?

O campeão voltou!!!

Pré-resultado

Está acabando. Enfim, coloco um ponto final. Vence o prazo, um ano e meio. Agora é dela a vida, aquela que quase ninguém ouvia. Aquela que quase ninguém conhece porque nunca pode sair e ser tudo o que queria. Ela está chegando, está prontinha!
E agora ela respira aliviada, está mais calma. Sai as tensões e ficam irrelevantes as novas pressões, porque agora não aceita mais, nenhuma. E tira todo o peso que pende o seu corpo, a sua alma... Longe das preocupações, alegria voltando, tempos de felicidade. Ah, a vida é melhor assim, é sim mais tranquila.
Respira. Respira.
Agora é só tirar você de mim. Algo que a cada dia trabalha em uma lógica proporcionalmente inversa. Que coisa, não? Invés de diminuir, mais e mais você entra em mim. A cada dia que se passa te acho em lugares em mim que nem sabia que você ocupava.
De repente, como um vulto dentro de casa que te acompanha ou que cruza com você ao andar pela casa.
É essa saudade que quando estou quieta ou cansada olho pro lado e lá está você, sentada também, quieta também. E aí é saudade que me enche inteira até eu quase não suportar, e quase sai pela boca, dá vontade de gritar, chamando... Ou é a saudade quando estou bastante ocupada dando passos à frente, ela vem e tropeça em meus pés tirando um pouco do meu equilíbio. Como se não fosse pra eu esquecer que você está ali, está aqui. E então, preencho todo o dia, a semana, o mês. Mas sempre tem a noite, e ai, você vem. Aparece novamente. E de novo, saudade o dia todo.
O jeito é parar de dormir. Olhos abertos o tempo todo. Ah... quem disse. Aí está você, no canto do meu olho.
Então, desisto. Me rendo a você. Fica aqui então, apareça quando quiser, onde quiser em mim. Me rendo a essa saudade que não sei de onde vem, por que vem. E a esse amor todo... ah, que fique também. Sou eu quem sinto, eu que te amo, eu que sinto saudade de ti.

Vida. Ela está saindo e agora é tudo o que quer ser.
"Come up to meet you, tell you I'm sorry.
You don't know how lovely you are
I had to find you, tell you I need you
And tell you I set you apart
Tell me your secrets, and ask me your questions
Oh let's go back to the start
Running in circles, coming up tails
Heads on a silence apart

Nobody said it was easy
It's such a shame for us to part
Nobody said it was easy
No one ever said it would be this hard
Oh take me back to the start

I was just guessing at numbers and figures
Pulling the puzzles apart.
Questions of science, science and progress
Don't speak as loud as my heart.
So tell me you love me, come back and haunt me,
Oh, when I rush to the start
Running in circles, chasing in tails
coming back as we are.

Nobody said it was easy
It's such a shame for us to part
Nobody said it was easy.
No one ever said it would be so hard
I'm going back to the start."



Era uma vez.

sábado, 24 de outubro de 2009

Carta de Recomendação

Uhh, chega.
Adiós a ustedes!!


=)

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Ansiedade

Estou aprendendo a não sofrer por antecipação. As coisas, por piores ou melhores que sejam, de qualquer forma virão.
E virão com toda a força avassaladora ou arrebatadora, libertária ou sufocante, colérica, entusiasmante, febril. E passamos por todas elas com muito menos dor do que sua antecipação previa.
Elas virão e passaremos sempre sem remédio.
Virão porque talvez seja feita disso a vida, feita dos acontecimentos, desses movimentos. Movimentar-se é estar vivo. Sim, estamos vivos por causa de movimentos corporais internos. Ficamos vivos por eles e morrer acontece quando eles param.
Enquanto as coisas acontecem aqui - do lado de fora - lá - do lado de dentro - o coração continua pulsando, pulsando, pulsando....
meu pulmão continua puxando ar e soltando ar...
células e mais células trabalham sem parar para me manter em pé, acordada, bem... para deixar tudo funcionando.
Ah, deixa isso pra lá. Não me importo, nem me preocupo. Faça o que quiser, chantagens a mais, chantagens a menos, problemas a mais, problemas a menos... passarei por todos mesmo, não é? Então, o que importa? Nada.
O que posso fazer? Nada
Ficar quieta, de boa. Porque no fundo, nós já sabemos, tanto faz.
O que importa é isso, é agora, é o que sou, o que estou, com quem estou, o que quero.
O que importa é só isso. Fazer o que se tem que fazer e fazer o que se quer fazer.
Não estou nem ai.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

sorrisos irritantes

arghhh...

Às vezes me cansa essa gente feliz. Feliz demais, feliz sempre, como se a vida fosse um doce interminável, eternamente gostoso e nunca enjoativo, ao menos. Como se a felicidade fosse constante, ou como se apenas existisse ela.
Não é uma felicidade espontânea que surge com coisas simples, com coisas boas, com coisas bobas até. É uma felicidade irritante que parece mais uma obrigação, a obrigação de ter que ser feliz. A obrigação de "Veja como sou feliz, eu sorrio o tempo todo!" Parece até forçasão, e talvez seja.
É o sorriso de ponta a ponta, de uma orelha a outra. Uma felicidade de ver aquela pessoa que você não gosta, de ter que aturá-la por mais tempo que o desejável, e de ter que ser agradável com ela. De sorrir para ela. É essa a felicidade que me irrita.
É o sorriso de sempre. A pessoa acorda e dorme, e sonha, com o mesmo sorriso estampado no rosto. Isso pode ser insensibilidade...
Às vezes acho que essas pessoas não sentem, nada.
Talvez sim, talvez não.
Não sei aonde elas são sensíveis ou se escondem. Talvez esse sorrir seja só um meio, o seu meio de disfarçar.
É. E talvez pensar assim me deixe menos irritada quando vejo tantos sorrisos 24 horas de todos os dias dos meses de todos os anos.

domingo, 4 de outubro de 2009

Las simples cosas... que duelen en el corazón

Homenagem a Mercedes Sosa - Grande!

Uno se despide insensiblemente de pequeñas cosas,
Lo mismo que un árbol en tiempos de otoño muere por sus hojas.
Al fin la tristeza es la muerte lenta de las simples cosas,
Esas cosas simples que quedan doliendo en el corazón.

Uno vuelve siempre a los viejos sitios en que amó la vida,
Y entonces comprende como están de ausentes las cosas queridas.
Por eso muchacho no partas ahora soñando el regreso,
Que el amor es simple, y a las cosas simples las devora el tiempo.

Demorate aquí, en la luz mayor de este mediodía,
Donde encontrarás con el pan al sol la mesa servida.

Por eso muchacho no partas ahora soñando el regreso,
Que el amor es simple, y a las cosas simples las devora el tiempo.


Canción de las Simples Cosas

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A Paz

A paz invadiu o meu coração
De repente me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse meus pés do chão
Onde eu já não me enterro mais

A paz fez um mar da revolução
Invadiu meu destino... A paz
Como aquela grande explosão
Uma bomba sobre o Japão
Fez nascer um Japão na paz

Eu pensei em mim, eu pensei em ti
Eu chorei por nós
Que contradição só a guerra faz
Nosso amor em paz
Eu vim, vim parar na beira do cais
Aonde a estrada chegou ao fim
Onde o fim da tarde é lilás
Onde o mar arrebenta em mim
O lamento de tantos ais

A paz invadiu o meu coração...

A paz fez um mar da revolução...



Zizi Possi

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

terça-feira, 15 de setembro de 2009

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Um dia eu vou estar à toa
E você vai estar na mira
Eu sei que você sabe
Que eu sei que você sabe
Que é difícil de dizer
O meu coração
É um músculo involuntário
E ele pulsa por você
Um dia eu vou estar contigo
E você vai estar na minha

Enquanto eu vou andando o mundo gira
E nos espera numa boa
Eu sei, eu sei,
Eu sei


Eu sei - Marisa Monte

terça-feira, 8 de setembro de 2009

uma vela pelo amor
o requiem à luz do sol
mais um relógio que eternamente dá horas




Eva Christina Zeller

Por alguns dias, quase te esqueci! - Pequenas Verdades

Por alguns dias, quase te esqueci!
Troquei a tua lembrança por espectáculos de sombras chinesas e jogos de xadrez.
Na penumbra das sombras, encontrei mãos que como veludo, desenhavam imagens e me tocavam a alma.
No tabuleiro do jogo, desvendei labirintos geométricos, tracei esquemas de vitória, ultrapassei obstáculos desconhecidos e recuperei desafios esquecidos.
O ocaso da estação trouxe-me novamente o teu perfume e enceto o Verão lembrando outras sombras e outros labiríntos.
No reflexo da minha janela: a imagem permanente do acender do teu cigarro ao luar. No meu sonho: as correntes fantásticas do teu narrar, ...as viagens ondulantes a tomar forma no teu semblante.
É a persistência da tua lembraça, a inevitabilidade da tua presença que não me deixam esquecer a solidão.
Porque as sombras que me tocam a alma e os tabuleiros que me desafiam não bastam, não são suficientemente imperfeitos para se enraizarem e no fim... tu!
Sempre tu, ou somente tu!



Xangai-Lime





No meu deserto de água
Não havia luz para te olhar
Tive que roubar a lua
Para te poder iluminar

Quando iluminei o teu rosto
Fez-se dia no meu corpo
Enquanto eu te iluminava
Minha alma nascia de novo


São as pequenas verdades
As que guiam o meu caminho
Verdades brancas
Como a manhã
Que abre a janela do nosso destino
Como o teu olhar
Quando tu me olhas
Como a tua lembrança
Depois de partires

É verdade que a sombra do ar me queima
E é verdade que sem ti eu morro de pena

Misteriosa era a tua boca
Misterioso o meu lamento
Mas não se o nosso amor de primavera
Foi mentira ou uma paixão verdadeira

Quando a solidão regresse
Cega de amor irei até à morte
As verdades só existem pelos recantos da mente
Essas pequenas verdades que guiaram o meu caminho


Pequenas Verdades - Javier Límon

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Uma criatura

Sei de uma criatura antiga e formidável,
Que a si mesma devora os membros e as entranhas
Com a sofreguidão da fome insaciável.

Habita juntamente os vales e as montanhas;
E no mar, que se rasga, à maneira de abismo,
Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.

Traz impresso na fronte o obscuro despotismo;
Cada olhar que despede, acerbo e mavioso,
Parece uma expansão de amor e de egoísmo.

Friamente contempla o desespero e o gozo,
Gosta do colibri, como gosta do verme,
E cinge ao coração o belo e o monstruoso.

Para ela o chacal é, como a rola, inerme;
E caminha na terra impertubável, como
Pelo vasto areal um vasto paquiderme.

Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo
Vem a folha, que lento e lento se desdobra,
Depois a flor, depois o suspirado pomo.

Pois esta criatura está em toda a obra;
Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto;
E é nesse destruir que as suas forças se dobram.

Ama de igual amor o poluto e o impoluto;
Começa e recomeça uma perpétua lida,
E sorrindo obedece ao divino estatuto.
Tu dirás que é a Morte; eu direi que é a Vida.


Machado de Assis

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Ah, isso são juras de amor primeiro...

Ah, isso são juras de amor primeiro...
ìntimo, interior, por inteiro.. tudo isso já foi dado, já foi entregue desde o começo.
depois dessa entrega fica a dor de algo perdido, esvaziado de si mesmo quando o amor já não faz sentido. e ele se vai, vai assim e leva o que foi entregue, uma parte de mim.
vão-se os anéis, ficam-se os dedos.
vem outros anéis para os mesmos dedos.
ou ranca-se tudo, anel, dedo, mão...
vai-se o coração, e fica... a falta? um buraco negro.

buracos negros saem por aí engolindo tudo que se aproxima.
quase engolem-se também e somem. acho que é isso.
não se sabe o que exatamente é um buraco negro, onde ele começa, onde ele termina, do quê ele é feito.
deve ser por isso, nesse engolir o que esta perto, nada mais perto deles que eles mesmos. eles engoliram-se a si mesmos.

e depois da entrega, do interior, do íntimo? depois que a pessoa a quem se entregou vai embora, o que ficou? o que entregar?
já foi entregue. LÁ está, indo-se, se perdendo e acenando de vez em quando.
tchau.

"parece que foi ontem que eu fiz aquele chá pra te curar da tosse e do chulé..."


e se voltasse? Ah, se voltasse...
o momento da dúvida cretina que escapa e ainda acha lugar aqui dentro do vazio, que por ser vazio ocupa todo o espaço e fica grande.

"nem com milhares de samba eu faria você voltar pra mim..."

ou, talvez buracos negros não conheçam voltas. ou, se conhecem, delas não deram notícia =|

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Sobreviventes. Cotidiano e amor: vida (?)

“Bato ao postigo, à vidraça
Responde o ego, batendo
Não sei se lá está alguém
Ou não quer, não pode ouvir-me
Quisera eu estar lá dentro
E fora também, batendo
Quisera eu ser alívio
P'ra nosso alívio encontrar”

Nós somos sobreviventes. Sobreviventes de um mundo feito de regras e contratos sociais criados com apertos de mãos.
Somos sobreviventes de uma vida cotidiana que precisa ser econômica para disfarçar o abismo existente entre nós. Entre nós: pessoas. Ou para amenizar as mágoas e humilhações de todo dia, que habitam a convivência. Que estão presentes na rotina. Economia.
Equilíbrio da Balança de Pagamentos, um equilíbrio entre as humilhações e as arrogâncias. Economia emocional.
Será que a gente sobrevive?
“O prometido reino da sobrevivência será o campo da morte suave.”
Sobreviver aos olhares, aos apertos de mãos, ao “tapinha” nas costas, às palavras... será?
Vivemos de compensações imaginárias, pois precisamos preencher o vazio dos gestos cotidianos, o oco de todos. De todos os dias.
Todo o dia sobrevive porque o enchemos de ilusão. Mas essa pobreza dos gestos não resiste ao tempo. E o mesmo motivo que a faz subir, a leva ao chão com toda força.
Ilusão.
É a eternidade cotidiana da vida.
Sobreviver a doença, a alguma modalidade de tortura, a dor de estômago, de cabeça, a morte, a traição, a frustração, a verdade (é?), ao acidente de carro, aos cachorros, a ilusão e a desilusão, a maldade...
Não, - ainda - não sobrevivi à maldade.
Milhares de alfinetadas.
A surda irritação de quase todos. Todos os dias. Todos tão cansados. “Será necessário outro tanto de sangue para atestar que 100 mil alfinetadas são tão mortais quanto três cacetadas?”
Será que sobrevivemos a “isso” agora? Sobrevivemos ao amor? Não esse amor do mês passado que aparece no banco de uma praça, ou em uma aliança de metal. Mas a esse amor longo em extensão até se perder de vista. I-medível e bastante im-provável por fatos. Um mosaico de fatos circundando-o e ao mesmo tempo preenchendo-o, sendo tudo o que o faz existir. Inalienável, simplesmente porque ainda, e desde de sempre, apenas se sente, se sabe, se olha e se entende em silêncio. Amor que se descobre latente. E que acontece, porque existe. Deixe que se embrenhe um instante... “nossos corpos de sonho e margaridas”. Sem medidas e tons de preocupação.

“Que estejam dez homens decididos à violência fulgurante em vez de estarem conformados com a longa agonia da sobrevivência.”
Porque não resolve nada pular o cotidiano, a vida e o amor. Conformar com essa suavidade que é “longa agonia”, se entregar ao compromisso das relações de troca e mútua negociação entre respeito e humilhação. Não adianta nada não tratar explicitamente a vida cotidiana “sem compreenderem o que há de subversivo no amor e de positivo na recusa das coações”. Na recusa de bater continência ao que é pressuposto e ao que não seria aceito.
“Por toda parte em que a liberdade recua uma polegada, o peso da ordem das coisas aumenta em cem vezes.”
“Devo me contentar com explicações que me destroem mesmo quando, com tudo arranjado para eu perder, tenho tudo para ganhar?”
Sendo que o movimento é tão simples! É o mesmo que motivou o anterior, o responsável pela desarticulação do contrato social e suposto causador do sofrimento. Temos “Uma ética inteira fundada sobre o valor de troca, os desejos reprimidos, a sobrevivência, e sobre os seus opostos, a morte”.
E assim produzimos o isolamento. Nos afastamos em nome desse valor de troca que estabelece a ordem, tão necessária!
“Mas precisamos estar atentos à maneira como as “necessidades” são construídas e representadas”.
Como se estivéssemos em uma “jaula cuja porta estivesse completamente aberta” e nós não pudéssemos sair, nos mexer. Então é isso mesmo. “Teria sido anormal, impossível mesmo, sair em direção a algo que não tinha nem realidade nem importância. Absolutamente impossível, já que o único campo de experiência tolerável era o Real, que era simplesmente um instinto irresistível de fazer com que as coisas tivessem importância.”
Mas, é a vida que tem importância. O amor que existe é que tem importância. “Só se as coisas tivessem alguma importância se poderia respirar, e sofrer.”
“Estás preso à vida como numa jaula.
Estamos todos presos nesta jaula que Gagárin foi o primeiro a ver de fora e nos dizer: é azul.

E já o sabíamos, tanto que não te mataste e não vais te matar e aguentarás até o fim."

O homem está preso à vida e precisa viver.
"Há muitas armadilhas no mundo e é preciso quebra-las.”
“Estás pronto para destruir os recifes do velho mundo antes que eles afundem teus desejos? Falta aos amantes amar o seu prazer com mais conseqüência”.
Crio um mantra no qual o nome se repete. Dando voltas em círculos no ar, na areia, no tempo. No tempo, e é só mais uma ilusão minha. Mais uma tentativa de suavizar o meu isolamento. “O isolamento a dois não resiste ao isolamento de todos. O prazer desfaz-se prematuramente, os amantes reencontram-se nus no mundo, os seus gestos se tornam subitamente ridículos e sem força.”

Fragmentos retirados de Raoul Vaneigem e Avtar Brah.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Apesar de estranho, é bom!
Por aquilo que não entendemos ficamos fascinados ou, então, tomamos antipatia. Podemos classificar como anormal, bobo, idiota ou qualquer outro adjetivo pejorativo. Afinal, não faz sentido mesmo. Ou podemos nos interessar, pode ser instigante e maravilhoso, por não entendermos. Podemos ler um livro inteiro sem entender nada dele e, mesmo assim, gostar. Bobeira, né?
Podemos também consumir coisas ou usar coisas que desconhecemos o por quê delas e mesmo assim recomendarmos aos outros como "muito boas!". Podemos ver um filme e detestar porque não parecia ter lógica ou porque não encontramos o motivo ou sentido dele. Da mesma forma, vemos pessoas e não conseguimos entender um tanto de coisas que elas fazem ou pensam, e por mais lógicas que pretendam ser nós nunca iremos entender uma boa parte delas.
Me parece que tudo tem um motivo, nem que seja a vontade e o interesse puro. Interesse puro... como pode haver? Como pode haver alguma coisa pura? Pureza...
Deixa pra lá, essa questão sempre deu muita briga.
Voltando ao sentido, ao fazer sentido. Tudo gira em torno do sentido de tudo. O sentido da vida, o sentido das palavras, o sentido do sinal vermelho, o sentido do fim e do começo, o sentido do presente, o sentido de Deus, o sentido das pessoas, o sentido das religiões, o sentido das famílias, o sentido da tradição, o sentido dos limites, o sentido das classificações, o sentido dos pensamentos, o sentido das ações... e mais uma gama de sentidos que acabam sem sentido nenhum.
Pensamos tanto no sentido das coisas que esquecemos que a maioria dos sentidos são criados por nós sem seguir nenhuma regra. É totalmente arbitrário! Criamos as coisas e seus sentidos. Fazemos com que elas funcionem a partir do que queremos significar com elas. E para todas as outras que funcionam independente da nossa criação, atribuimos mais que depressa um sentido.
As coisas precisam ter sentido, sem sentido perdemos a razão que parece ser a única coisa que salva o Ser Humano, atestando-o Ser Humano. Longe do sentido caimos na fé. Fé é acreditar naquilo que não sabemos, que desconhecemos. Entregamos ao mistério nossas expectativas e anseios por não darmos conta de explica-los. Quando não encontramos solução nenhuma para um possível sentido, colocamos tudo no âmbito da fé.
Ter fé não é ruim, não acho que seja. É uma espécie de ilusão. Pode ser uma saída também. Talvez o cuidado deva ser em como administrar e aceitar todas as consequencias que ela pode trazer. Prefiro o ceticismo. Sou cética. Confesso que as vezes torna-se pesado ser assim. Saber que tudo acaba e sentir tudo acabar. Ver toda a euforia que sempre dá no mesmo lugar. Não que isso seja pessimismo, o que também pode se tornar, mas nem sempre, apesar dos mais histéricos e tolos adorarem confundir as coisas.
Um brinde ao lúdico! Eu preciso dele pra viver.
Ceticismo e ludicismo, o que rege a minha existência.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A tarde talvez fosse azul

"Desejos e infortúnios, um lamento,
Antúrios esquecidos nas manhãs,
As águas vão seguindo os seus afãs,
As nuvens não se movem, falta o vento...

Talvez se ela não fosse tão distante
Se amor pudesse ser, simples amante,
Riria feito um frevo. Morto o blues

Porém querência tanta que agonia,
Tornando a tarde ausente, amarga e fria
Esqueço que nascemos todos nus..."


Drummond

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Qual é a força que faz esse movimento?

Qual é a força que faz esse movimento?

A estruturação da experiência das pessoas é uma tentativa de por sua experiência numa camisa de força.

Todas foram reclamar a mesma coisa, mas descobriram que ocupavam posições diferentes e, portanto, suas reclamações, mesmo que fossem sobre o mesmo assunto, possuíam enfoques particulares e que por isso deveriam ser olhadas cada uma de maneira diferente.

"Cada descrição está referida a uma condição social específica. Vidas reais são forjadas a partir de articulações complexas dessas dimensões." Brah.

Interseccionalidade.

A miríade de processos que nos insere nas relações globais de poder são responsáveis por nossa diferenciação.
Existem vários sentidos para “diferença”. Quantos sentidos sempre há pra tudo?

É preciso olhar o que mais gera a opressão, a violência. Quais são os fatores que se acumulam, se juntam para fortalecer esse processo. Parece que ele nunca vem sozinho, sempre existem mais marcadores que se somatizam e geram todo esse sistema opressor.

A palavra diferença traz consigo uma variedade de significados que podem ser problemáticos se olhados separadamente.

A palavra muda de significado e obtém funções diferentes dependendo do lugar e de quem a utiliza.

“As fronteiras de um círculo de pessoas formado em torno de preocupações específicas dependem da natureza das preocupações e sua importância e significação na vida dessas pessoas.” Brah.

Talvez essa seja a força: os grupos são formados de acordo com interesses e preocupações individuais que tornam-se coletivas. E esses grupos se diferenciam de outros grupos na medida em que afirmam algo em comum, uma característica ou ideologia em comum entre as pessoas que fazem parte dele. E o que é comum em um grupo não é comum em outro.
Mas, por mais que se tente estabelecer o comum entre pessoas de um mesmo grupo, ou seja, buscar uma univocidade, elas vão sempre se esbarrar em outras formações de cada indivíduo.

Múltiplas localizações.

História, cultura, sociedade e limites.

Tudo se finaliza e aparece no corpo.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Os passos dos que vão

- sós ou não -

são os passos

- os nossos -

passos da paixão......



Quanto mais só

me faço

mais próximo está o próximo......



E mais próximo

do próximo

o próximo passo.....


da paixão



Autoria: Afonso


Bonito. São meus passos - ou melhor, nossos.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

As palavras apenas serão ação se elas forem pronunciadas pela pessoa certa e na hora certa.

domingo, 16 de agosto de 2009

Cocas, cigarros e pôres-do-sol

Cocas e cigarros. Assim foi o nosso começo, lembra? *Ops, esqueci de mais um fator, pôres-do-sol.
Então fica: cocas, cigarros e pôres-do-sol. Todos os elementos de um começo.
Era muito cigarro, você fumava muito naquela época. Nós bebíamos muita coca-cola e ficávamos todas as tardes, depois de aulas, sentadas na grama juntas e víamos 0 pôr-do-sol. Lembrei de um dia desses agora, depois de tanto tempo... apenas algo que volta de repente.
Sempre fazíamos a brincadeira da sorte com os cílios e você sempre ganhava. Mas, um dia a sorte ficou comigo, era 19 de junho daquele ano, um pôr-do-sol. Eu sei o que eu desejei para um outro dia 19 de junho de um outro ano. Mais um pôr-do-sol com um lugar diferente. Um dia que ainda não chegou e que hoje não sei se chega mais. Eu ganhei a sorte nesse dia.
Posso pensar que vai acontecer, afinal eu ganhei a sorte! E acho que você estará fumando e nós bebendo coca.
Houve a promessa de parar de fumar. Promessa que até certo tempo foi cumprida, mas depois as coisas voltaram ao que eram. E terminamos mais ou menos assim, como no começo, com cocas, cigarros e pôres-do-sol. Tudo isso de novo, apenas em outro tom.
Eu podia ter pensado só em mim, mas não quis isso. Pra mim não fazia sentido existir um começo se esse começo fosse só pra mim e nosso começo não foi só pra mim. E tentei, errei, me perdi. Não sei se ficou a saudade e a falta enorme porque estamos longe. Já que vamos ficar longe, cada uma segue seu rumo e seus interesses e que esse ano seja o melhor para lembrarmos como foi bom e que houve sim algo bom.
Hoje é dia 16, ontem foi dia 15 e anteontem dia 14 de agosto. É só uma sequência e pode continuar sendo só isso mesmo. Apenas números e dias de um mês como todos os outros.
Eu queria sempre estar perto, nunca deixar e cuidar, mas tudo acaba. Eram 3 promessas pra sempre. Ingenuidade? Ou, só vontade?
"Se lembra quando a gente chegou um dia acreditar que tudo era pra sempre sem saber que o pra sempre sempre acaba? Mas nada vai conseguir mudar o que ficou. Quando penso em alguém só penso em você e ai, então, estamos bem.
Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está. Nem desistir nem tentar agora, tanto faz."
Era sincero e certo o te amo pra sempre, minha mulherzinha clara e escura!

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Eu tenho preguiça das pessoas.

Elas são muito chatas.

domingo, 26 de julho de 2009

Infinita Tristeza

infinita tristeza
que vem e me invade como o deserto do Atacama
se confunde com a distância
a proximidade
pois no horizonte se unem as pontas
que me circundam por todos os lados
parecendo tão perto!
mas são extensões que se confundem no espaço aberto
que mescla a distância entre perto e longe
muito perto parecem
por tamanha claridade
e espaço tão livre!
mas longe, se sabe
pela união que acontece apenas com o horizonte.
infinita tristeza
esse perto e longe

Pérolas

"Isso é inachável."

"Apenas pessoas insuportavelmente legais!"

"Vida é o que acontece enquanto planejamos uma."

"Bom senso é um órgão, tem gente que nasce sem."

"As quatros coisas mais importantes na vida é comer e viajar."

"Se a sua vida não está sendo comer o que tem vontade e dormir quando tem vontade, então ela não está valendo a pena."

Karla Castanheira

"Um psicanalista é o sonho de toda pessoa com problema psicológico!"

"Aohhh, lá em casa!"

Maressa Pereira

sexta-feira, 24 de julho de 2009

"Se alguém quer matar-me de amor que me mate no Estácio, bem no compasso, bem junto ao passo do passista da escola de samba do Largo do Estácio.

Fico manso, amanso a dor. Holliday, um dia de paz.

O Estácio acalma os sentidos dos erros que eu faço. Trago não traço, faço não caço.

Solto o ódio, mato o amor. Holliday, eu já não penso mais."



se alguém quer matar-me de amor que me mate no Estácio, bem no compasso... eu já nem penso mais.

terça-feira, 14 de julho de 2009



momento de tremor de alma
é a vibração que completa a nota que escapa
e voa
pára não sei onde
não sei se pára, se segue, se volta...








o tempo parou e abriu um buraco enorme entre o céu e a terra
o abismo do presente e o futuro
as rachaduras do passado trincando o chão sob os meus pés

e o sonho acaba.
sonho de futuro,
sonho de passado que continua vivo na memória incontável dos anos.

instante...o momento em que o tempo parou
e o instante é esse abismo.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Tudo o que é comum

Tudo o que é comum cabe dentro do que eu faço todos os dias.
Tudo que é comum cabe dentro de uma caixa de sapato: são cartas! Confidências que faço, que escrevo, que recebo, que volta e meia volto a ler. Correspondências de épocas e etapas diferentes que passamos. Laços se fortalecendo, outros laços diferentes se formando e uma mania mania mania de escrever, de olhar a caixa de correio e ver um envelope reluzente, dourado que brilha muito, piscando na minha frente.
Tudo o que é comum cabe dentro do meu silêncio telepático que funciona somente com algumas, pouquíssimas, pessoas. Essas escolhidas a dedo, ou por telepatia mesmo. Na verdade, isso acontece tão certo e sempre o tempo todo, desde que nos conhecemos a alguns anos, apenas com uma pessoa. É verdade mesmo, acontece com outras mas não tão intenso que realmente as palavras são tão mínimas, tão desnecessárias. Será mesmo silêncio telepático? Ou é por que falamos “sempre sozinhos”? Então, nós dois sempre falamos sozinhos e.. talvez nos encontramos quando falamos sozinhos.
Não, não. Não parece isso. Isso aconteceu quando nós tentamos conversar um com outro e nos explicar. Mas chegando lá não houve conversa, era só chegar e não havia mais o que ser dito porque parecia muito pequeno, quase sumia. Mas era pra ser uma conversa. Palavras tinham que ter sido pronunciadas, ditas, proferidas para fazer sentido, para esclarecer, explicar, explanar. Mas esclarecer o que se para nós dois não era necessário nenhum esclarecimento? Foi só uma tentativa de falar até fazer sentido, mas não deu. Cansamos e é só isso. Fomos embora.
Não precisam tantas palavras. Palavras tocam corpos. É bobagem pensar ou dizer que não. E o silêncio toca mais. É o olhar, está dito, preso silencioso no olhar, esse toca mais, mais.
Tudo o que é comum cabe dentro do meu olhar. Sempre coube, está lá. Olhar que esmaga as palavras, e olha que as palavras já são bem grandes! É ele que deixa o silêncio – telepático silêncio – olhar.
Tudo me é comum e cabe dentro do meu olhar. Tudo o que meu olho vê não é tudo o que quero olhar, mas tudo o que olho é tudo o que carrego e que me é comum. O que quero carregar e olhar sempre, tudo o que me é comum. Tudo cabe dentro do meu olhar.
É tão comum eu carregar tanta saudade...

sábado, 20 de junho de 2009

como se água viesse pra inundar, o sol pra esquentar, o céu pra acalmar, o mar arrebatar diferentemente...
abrindo caminho de volta pra tudo o que já foi, tudo o que é e tudo o que ainda será!
talvez seja mesmo apenas o fato de "ser". apenas a intenção do querer que transponha, e transpõe, tudo o que é mal e tudo o que dói.
ou seja simplesmente a vontade transformando-se em certeza de que a vida - é essa mesmo -, a vida é simples e muito boa.

qual é o sabor de amar? o que se sabe sobre ser amado ou sentir-se amado? o que se entende por querer bem? o que significa bem-estar?
quem importa, no final e no começo?

quem importava no começo e agora importa no final.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Endereço, meu

Era uma casa muito engraçada
Não tinha teto,
não tinha nada.

Ninguém podia dormir na rede
porque na casa não havia parede.

Ninguém podia fazer pipi
porque penico não tinha ali.

Mas era feita com muito esmero,
na rua dos bobos,
número "0".




Respondendo à pergunta d'un ami important, ai está o endereço daqui, de onde estou e sou. De onde vive a poesia e o sonho!
Meu lugar desde desde desde os primórdios do tempo. Desde antes, desde nem saber ao certo que lugar era esse.
Agora sei, é o meu.
Mas não é só meu, ele é de mais algumas pessoas também.
Só não sei quem são, mas tenho certeza que elas existem!

terça-feira, 16 de junho de 2009

Aqui vivem a poesia e o sonho.

sábado, 13 de junho de 2009

Foi a flor

Tinha um barco estagnado
Com um letreiro que dizia:
"Aqui morreram e foram enterrados
A poesia e o sonho
De quem veio neste mundo pra viver resignado

Aqui morreram e tudo o que sobrou
Impenitente e solteira
Foi a Flor, foi a Flor, foi a Flor"

Bia Krieger

domingo, 7 de junho de 2009

Inversão

É das tensões internas que surgem os elementos de um sistema autônomo, capaz de gerar o seu próprio impulso de crescimento, concluindo-se, então, definitivamente.
Tensões internas são resultantes da mutabilidade e do movimento.
Privilégios criam sérias dificuldades. Por um lado, reduzem a capacidade de ação. E por outro, através do descontentamento, criam focos de desagregação.
Estagnação = declínio.
Inversão = crescimento.
Motivos = invasão.
Por minha própria natureza significa uma inversão a longo prazo, com grandes imobilizações e intensos movimentos.
Concentração e seu efeitos durante um período cíclico.
Egoismo? Quero crer que não.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Caravana

"Corra não pare, não pense demais
Repare essas velas no cais
Que a vida é cigana
É caravana
É pedra de gelo ao sol
Degelou teus olhos tão sós
Num mar de água clara."

Geraldo Azevedo E Alceu Valença

terça-feira, 2 de junho de 2009

Abriram o céu, furaram as nuvens, armaram cubos de gelo, fizeram a terra esfriar. Sentiram aqui em baixo as raspas de gelo invisível. Tremeram e rangeram dentes sem entender o por quê de tanto frio. Olharam pro lado, sentaram no chão, correram. E nesses poucos minutos de calor sentiram os músculos formigarem.
Outros, azuis esverdiados já, de tanto se entregarem sem forças àquela invisibilidade fria, nem se mexiam, nem se lembravam mais... de mais nada.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Foi..

Foi uma peste. Uma epidemia que assolou e devastou toda a região.
Passamos como se passa quando se tem algo assim. Sentimos o incômodo da morte, o medo de quem seriam os próximos, a angústia do que não tem remédio. Sentimos a morte chegando. Sentimos seu hálito e morremos de pavor.
Aquilo parecia a loucura. Aquilo era loucura.
Todos os meios falharam, menos o da imaginação. Pessoas outras, escolhidas a dedo, salvaram-se da morte. Várias outras morreram.
Nos isolamos uns dos outros. Pois era altamente contagioso.
Na solidão ficamos loucos, cheios de devaneios e mais medos. Olhei a morte de perto. E a olhei em várias situações.
Depois, ficamos tontos, perdidos, com olhos de eternidade sacrificada.
Era a loucura e a morte. Castigo?
Não há mais nada a fazer, a única coisa é rezar.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

"A justiça é uma aporia: uma experiência que não somos capazes de experimentar; o desejo do impossível; acaba sendo um chamado por justiça."
Derrida

E ai, sobrevivemos?

"ficar parado esperando o tempo é só ficar parado. não é por causa do parado que coisas acontecem, é por causa do movimento."
Aron

E agora? Sumimos? Morremos?



terça-feira, 19 de maio de 2009

Aniversário, Renascimento.

Comemorando o meu aniversário na noite passada, 5 indivíduos, incluindo a aniversariante, sentados tomando um café em uma confeitaria de uma avenida movimentadíssima da Grande Capital do interior, obtem a maior descoberta chegando a conclusão, depois de várias discussões filosóficas e pensamentos profundos alheios, de que o Renascimento ocorreu:
a) minutos antes do nascimento de Jesus, o Cristo, com a Estrela reluzente que brilhou tanto no céu que acabou servindo de guia para os três reis magos chegarem até a manjedoura; e
b) na década de 70 quando houve muita luz, as pessoas andavam e gostavam de tudo que fosse colorido e, finalmente, porque nessa época inventaram a luz de néon.
E ai, com qual das duas você fica? Existe até Livre Arbítrio!!!
rs.. Particularmente, eu prefiro a letra "b".
Renascimento, época das luzez. Não é à toa que...

sábado, 16 de maio de 2009

Nada

"Em aba de chapéu velho só nasce flor taciturna.
Tudo é noite no meu canto.
(Tinha a voz encostada no escuro. Falava putamente.)
Estou sem eternidades.
Não tenho mais cupidez.
Ando cheio de lodo pelas juntas como os velhos navios
naufragados.
Não sirvo mais pra pessoa.
Sou uma ruína concupiscente.
Crescem ortigas sobre meus ombros.
Nascem goteiras por todo canto.
Entram morcegos aranhas gafanhotos na minha alma.
Nos lepramentos dos rebocos dormem baratas torvas.
Falo sem alamares.
Meu olhar tem odor de extinção.
Tenho abandonos por dentro e por fora.
Meu desnome é Antônio Ninguém.
Eu pareço com nada parecido."

Manoel de Barros.

Um bom estado para encerrar 2 décadas!

Boa descoberta mais pontos de exclamação.. rs.
Acabaram-se os dias de pessoa e não me venham com espiritualidades e "pensamentos puros".
Ótimo esvaziamento. Tão, tão vazia que é quase como se o vento batesse e levasse... e podia mesmo levar pra longe, bem longe... não sei pra onde. sei lá pra onde. nem quero também saber pra onde.

E quero também, mas como quero, fazer voltar esse modo de repetição que se faz com a palavra quando se escreve tentando ficar na estrutura sintática das frases do que se é falar e ser entendida ou escrever e se fazer entender como se isso fosse algo importante quando na verdade se trata de mais desconstrução de sentidos que, convenhamos, existem justamente para serem desconstruídos e deixar a ótima sensação de que não se entendeu nada.

?vazio
O nada é

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Gente

"só a descrença total pode trazer alguma solução. só o ceticismo integral pode começar a produzir um mínimo de verdade, criar um sentimento de maior aproximação com o outro ser humano assim mesmo como ele é; quer dizer, a partir do conhecimento de sua crapulice, de sua mentira, de sua quase absoluta incapacidade de corresponder. Acho que já aprendi a conhecer o ser humano que sou eu mesmo.Não adianta toda a minha racionalização e saber que cada palavra de meu interlocutar não corresponde a nada do que ele é. O sentido de humor, que me faz ver sempre falho – me mostra toda a complexidade das relações humanas como uma coisa extraordinariamente engraçada, mesmo quando dramática, mesmo quando odiosa.. pois fora do ser humano a vida não tem enredo. fora do ser humano não há salvação."

Millor

terça-feira, 12 de maio de 2009

Razões e razões se juntando

Saber como a vida é deveria torná-la mais fácil. Deveria deixar as coisas mais simples.
Talvez seja essa a simplicidade, talvez seja isso o que significa ser simples: saber o que é a vida.
A gente já sabe, sempre sabe. Quer dizer, algumas pessoas sempre sabem.
Saber como funciona o mundo. Lembrar que eles são, nós somos, pessoas.
É por isso que cansa, que estou cansada.
Já sei que se é sozinha. Já sei faz tempo, por outros motivos, por outras razões.
Razões e razões que vão se juntando às antigas.
"A gente acaba fazendo o mesmo caminho, Thami." É, é verdade.


Como uma borboleta com o corpo preso por um alfinete. Estou tentando bater as asas, mas todo esforço parece vão.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

A realidade, nossa.

"Tudo que temos em comum é a ilusão de estarmos juntos. E contra a ilusão dos remédios lícitos só se ergue a vontade geral de romper o isolamento."
"Produzindo isolamento a organização social contemporânea assina a sua própria sentença de morte."
"Chega um momento em que não existe ilusão do tamanho da nossa angústia."
"O amor, por sua vez, amplia a ilusão da unidade e na maioria das vezes ele é abortado e não passa de significâncias. O medo de refazer a 2 ou 10 o caminho tão igual do isolamento ameaça com seu acorde gelado as sinfonias amorosas."
"O que nos leva ao desespero não é a imensidão dos nossos desejos insatisfeitos, mas a paixão que nasce confrontada com seu vazio. O desejo de conhecer alguém e se apaixonar nasce na angústia e no medo de amar.
A aurora em que os abraços se soltam é semelhante a aurora em que morremos revolucionários sem revolução."

Raoul Vaneigem


Bom começo.