terça-feira, 17 de novembro de 2009

Alucinação

Eu não estou interessado em nenhuma teoria,
em nenhuma fantasia, nem no algo mais.
Nem em tinta pro meu rosto
ou oba oba, ou melodia
para acompanhar bocejos
sonhos matinais...



Eu não estou interessado em nenhuma teoria
nem nessas coisas do oriente
romances astrais.
A minha alucinação
É suportar o dia-a-dia.
E meu delírio
É a experiência
Com coisas reais...



Um preto, um pobre
Uma estudante
Uma mulher sozinha
Blue jeans e motocicletas
Pessoas cinzas normais
Garotas dentro da noite
Revólver: cheira cachorro
Os humilhados do parque
Com os seus jornais...



Carneiros, mesa, trabalho
Meu corpo que cai
Do oitavo andar
E a solidão das pessoas
Dessas capitais
A violência da noite
O movimento do tráfego
Um rapaz delicado e alegre
Que canta e requebra
É demais!...



Cravos, espinhas no rosto
Rock, Hot Dog
"Play it cool, Baby"
Doze Jovens Coloridos
Dois Policiais
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida...



Mas eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nem no algo mais
Longe o profeta do terror
Que a laranja mecânica anuncia
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais
Amar e mudar as coisas
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais...



Um preto, um pobre
Uma estudante
Uma mulher sozinha
Blue jeans e motocicletas
Pessoas cinzas normais
Garotas dentro da noite
Revólver: cheira cachorro
Os humilhados do parque
Com os seus jornais...



Carneiros, mesa, trabalho
Meu corpo que cai
Do oitavo andar
E a solidão das pessoas
Dessas capitais
A violência da noite
O movimento do tráfego
Um rapaz delicado e alegre
Que canta e requebra
É demais!...



Cravos, espinhas no rosto
Rock, Hot Dog
"Play it cool, Baby"
Doze Jovens Coloridos
Dois Policiais
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida...



Mas eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nem no algo mais
Longe o profeta do terror
Que a laranja mecânica anuncia
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais
Amar e mudar as coisas
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais...



Belchior
 
 
Como sempre, incrível e simples.
Tudo o que é comum - talvez só pra mim: essa música e Belchior!
Ai, ai, essas terças...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Eu, feita de azul..

"Chore, querida. Hoje o dia precisa ser lavado por lágrimas derrubadas de olhos tão gentis, provocadas por sentimentos sinceros e sensações eternas. Então, chore. Lave o céu cinza do inverno e transforme tudo num raio de sol colorido, que consiga alcançar todos em quem você pensa hoje.


Aproveite o teu dia, e faça o que quiser, até mesmo chorar. Ele vai demorar mais um ano pra chegar de novo, e até lá as lágrimas não terão a mesma cor que tem hoje."


palavras lindas escritas por M.




Eu,










que sou feita de azul!


domingo, 8 de novembro de 2009

Eu e o Trem Azul

Tudo o que ainda há de vir
É tão pequeno quando se quer unir
A pergunta surge
Alguém às vezes a responde

Mas com um sol na cabeça
Uma folha jovem na mão
Olho no ar uma pena
E tudo se perde na imensidão

Nesta cena passa a nuvem
Passa a montanha, corre o trem
No espelho sou o que fica
Eu e minha imaginação tão rica

Achando-me um bobo desde então
Iludido num mundo cru
num banco de estação
ainda esperando pelo Trem Azul

Pablo

sábado, 7 de novembro de 2009

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Eu sinto tanto por isso - I

=|

Essa estranheza da vida, que a qualquer momento deixa de ser vida, me assusta cada dia mais.

E eu sinto tanto por isso.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Uma estranha

Vida, vida... quão estranha é você?
Quão estranha você pode ser que, em um instante se vive e daqui a pouco se morre?
Como pode...? como posso me sentir tão viva se daqui a pouco mais um morre?
Se alguém do meu lado deixa a vida no mesmo instante de vida que cresce a minha?
Se toda a sua dubiedade volta e me aparece?  ...tão frágil você.
E esse nó na garganta.
Por que?

Isso dói. Já sei que dói. Fére, machuca.
Começamos pelo final. Enterramos nossos amigos.
Se a ordem "natural" seria crescer, casar, ter filhos e depois enterrá-los. E depois morrer.
Estamos do aveso, então.
Começamos nos enterrando.

O Poço

Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profunduras da tua existência.

Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?

Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.

Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.

Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.

Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.



- - -



Só.
As vezes amanheço, e minha alma está úmida.
Soa, ressoa o mar distante.
Isto é um porto.
Aqui eu te amo.

Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte.
Estou a amar-te ainda entre estas frias coisas.
As vezes vão meus beijos nesses barcos solenes,
que correm pelo mar rumo a onde não chegam.

Já me creio esquecido como estas velha âncoras.
São mais tristes os portos ao atracar da tarde.
Cansa-se minha vida inutilmente faminta..
Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.

Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos.
Mas a noite enche e começa a cantar-me.
A lua faz girar sua arruela de sonho.

Olham-me com teus olhos as estrelas maiores.
E como eu te amo, os pinheiros no vento,
querem cantar o teu nome, com suas folhas de cobre.

Pablo Neruda