terça-feira, 22 de setembro de 2009

A Paz

A paz invadiu o meu coração
De repente me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse meus pés do chão
Onde eu já não me enterro mais

A paz fez um mar da revolução
Invadiu meu destino... A paz
Como aquela grande explosão
Uma bomba sobre o Japão
Fez nascer um Japão na paz

Eu pensei em mim, eu pensei em ti
Eu chorei por nós
Que contradição só a guerra faz
Nosso amor em paz
Eu vim, vim parar na beira do cais
Aonde a estrada chegou ao fim
Onde o fim da tarde é lilás
Onde o mar arrebenta em mim
O lamento de tantos ais

A paz invadiu o meu coração...

A paz fez um mar da revolução...



Zizi Possi

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

terça-feira, 15 de setembro de 2009

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Um dia eu vou estar à toa
E você vai estar na mira
Eu sei que você sabe
Que eu sei que você sabe
Que é difícil de dizer
O meu coração
É um músculo involuntário
E ele pulsa por você
Um dia eu vou estar contigo
E você vai estar na minha

Enquanto eu vou andando o mundo gira
E nos espera numa boa
Eu sei, eu sei,
Eu sei


Eu sei - Marisa Monte

terça-feira, 8 de setembro de 2009

uma vela pelo amor
o requiem à luz do sol
mais um relógio que eternamente dá horas




Eva Christina Zeller

Por alguns dias, quase te esqueci! - Pequenas Verdades

Por alguns dias, quase te esqueci!
Troquei a tua lembrança por espectáculos de sombras chinesas e jogos de xadrez.
Na penumbra das sombras, encontrei mãos que como veludo, desenhavam imagens e me tocavam a alma.
No tabuleiro do jogo, desvendei labirintos geométricos, tracei esquemas de vitória, ultrapassei obstáculos desconhecidos e recuperei desafios esquecidos.
O ocaso da estação trouxe-me novamente o teu perfume e enceto o Verão lembrando outras sombras e outros labiríntos.
No reflexo da minha janela: a imagem permanente do acender do teu cigarro ao luar. No meu sonho: as correntes fantásticas do teu narrar, ...as viagens ondulantes a tomar forma no teu semblante.
É a persistência da tua lembraça, a inevitabilidade da tua presença que não me deixam esquecer a solidão.
Porque as sombras que me tocam a alma e os tabuleiros que me desafiam não bastam, não são suficientemente imperfeitos para se enraizarem e no fim... tu!
Sempre tu, ou somente tu!



Xangai-Lime





No meu deserto de água
Não havia luz para te olhar
Tive que roubar a lua
Para te poder iluminar

Quando iluminei o teu rosto
Fez-se dia no meu corpo
Enquanto eu te iluminava
Minha alma nascia de novo


São as pequenas verdades
As que guiam o meu caminho
Verdades brancas
Como a manhã
Que abre a janela do nosso destino
Como o teu olhar
Quando tu me olhas
Como a tua lembrança
Depois de partires

É verdade que a sombra do ar me queima
E é verdade que sem ti eu morro de pena

Misteriosa era a tua boca
Misterioso o meu lamento
Mas não se o nosso amor de primavera
Foi mentira ou uma paixão verdadeira

Quando a solidão regresse
Cega de amor irei até à morte
As verdades só existem pelos recantos da mente
Essas pequenas verdades que guiaram o meu caminho


Pequenas Verdades - Javier Límon

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Uma criatura

Sei de uma criatura antiga e formidável,
Que a si mesma devora os membros e as entranhas
Com a sofreguidão da fome insaciável.

Habita juntamente os vales e as montanhas;
E no mar, que se rasga, à maneira de abismo,
Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.

Traz impresso na fronte o obscuro despotismo;
Cada olhar que despede, acerbo e mavioso,
Parece uma expansão de amor e de egoísmo.

Friamente contempla o desespero e o gozo,
Gosta do colibri, como gosta do verme,
E cinge ao coração o belo e o monstruoso.

Para ela o chacal é, como a rola, inerme;
E caminha na terra impertubável, como
Pelo vasto areal um vasto paquiderme.

Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo
Vem a folha, que lento e lento se desdobra,
Depois a flor, depois o suspirado pomo.

Pois esta criatura está em toda a obra;
Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto;
E é nesse destruir que as suas forças se dobram.

Ama de igual amor o poluto e o impoluto;
Começa e recomeça uma perpétua lida,
E sorrindo obedece ao divino estatuto.
Tu dirás que é a Morte; eu direi que é a Vida.


Machado de Assis

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Ah, isso são juras de amor primeiro...

Ah, isso são juras de amor primeiro...
ìntimo, interior, por inteiro.. tudo isso já foi dado, já foi entregue desde o começo.
depois dessa entrega fica a dor de algo perdido, esvaziado de si mesmo quando o amor já não faz sentido. e ele se vai, vai assim e leva o que foi entregue, uma parte de mim.
vão-se os anéis, ficam-se os dedos.
vem outros anéis para os mesmos dedos.
ou ranca-se tudo, anel, dedo, mão...
vai-se o coração, e fica... a falta? um buraco negro.

buracos negros saem por aí engolindo tudo que se aproxima.
quase engolem-se também e somem. acho que é isso.
não se sabe o que exatamente é um buraco negro, onde ele começa, onde ele termina, do quê ele é feito.
deve ser por isso, nesse engolir o que esta perto, nada mais perto deles que eles mesmos. eles engoliram-se a si mesmos.

e depois da entrega, do interior, do íntimo? depois que a pessoa a quem se entregou vai embora, o que ficou? o que entregar?
já foi entregue. LÁ está, indo-se, se perdendo e acenando de vez em quando.
tchau.

"parece que foi ontem que eu fiz aquele chá pra te curar da tosse e do chulé..."


e se voltasse? Ah, se voltasse...
o momento da dúvida cretina que escapa e ainda acha lugar aqui dentro do vazio, que por ser vazio ocupa todo o espaço e fica grande.

"nem com milhares de samba eu faria você voltar pra mim..."

ou, talvez buracos negros não conheçam voltas. ou, se conhecem, delas não deram notícia =|

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Sobreviventes. Cotidiano e amor: vida (?)

“Bato ao postigo, à vidraça
Responde o ego, batendo
Não sei se lá está alguém
Ou não quer, não pode ouvir-me
Quisera eu estar lá dentro
E fora também, batendo
Quisera eu ser alívio
P'ra nosso alívio encontrar”

Nós somos sobreviventes. Sobreviventes de um mundo feito de regras e contratos sociais criados com apertos de mãos.
Somos sobreviventes de uma vida cotidiana que precisa ser econômica para disfarçar o abismo existente entre nós. Entre nós: pessoas. Ou para amenizar as mágoas e humilhações de todo dia, que habitam a convivência. Que estão presentes na rotina. Economia.
Equilíbrio da Balança de Pagamentos, um equilíbrio entre as humilhações e as arrogâncias. Economia emocional.
Será que a gente sobrevive?
“O prometido reino da sobrevivência será o campo da morte suave.”
Sobreviver aos olhares, aos apertos de mãos, ao “tapinha” nas costas, às palavras... será?
Vivemos de compensações imaginárias, pois precisamos preencher o vazio dos gestos cotidianos, o oco de todos. De todos os dias.
Todo o dia sobrevive porque o enchemos de ilusão. Mas essa pobreza dos gestos não resiste ao tempo. E o mesmo motivo que a faz subir, a leva ao chão com toda força.
Ilusão.
É a eternidade cotidiana da vida.
Sobreviver a doença, a alguma modalidade de tortura, a dor de estômago, de cabeça, a morte, a traição, a frustração, a verdade (é?), ao acidente de carro, aos cachorros, a ilusão e a desilusão, a maldade...
Não, - ainda - não sobrevivi à maldade.
Milhares de alfinetadas.
A surda irritação de quase todos. Todos os dias. Todos tão cansados. “Será necessário outro tanto de sangue para atestar que 100 mil alfinetadas são tão mortais quanto três cacetadas?”
Será que sobrevivemos a “isso” agora? Sobrevivemos ao amor? Não esse amor do mês passado que aparece no banco de uma praça, ou em uma aliança de metal. Mas a esse amor longo em extensão até se perder de vista. I-medível e bastante im-provável por fatos. Um mosaico de fatos circundando-o e ao mesmo tempo preenchendo-o, sendo tudo o que o faz existir. Inalienável, simplesmente porque ainda, e desde de sempre, apenas se sente, se sabe, se olha e se entende em silêncio. Amor que se descobre latente. E que acontece, porque existe. Deixe que se embrenhe um instante... “nossos corpos de sonho e margaridas”. Sem medidas e tons de preocupação.

“Que estejam dez homens decididos à violência fulgurante em vez de estarem conformados com a longa agonia da sobrevivência.”
Porque não resolve nada pular o cotidiano, a vida e o amor. Conformar com essa suavidade que é “longa agonia”, se entregar ao compromisso das relações de troca e mútua negociação entre respeito e humilhação. Não adianta nada não tratar explicitamente a vida cotidiana “sem compreenderem o que há de subversivo no amor e de positivo na recusa das coações”. Na recusa de bater continência ao que é pressuposto e ao que não seria aceito.
“Por toda parte em que a liberdade recua uma polegada, o peso da ordem das coisas aumenta em cem vezes.”
“Devo me contentar com explicações que me destroem mesmo quando, com tudo arranjado para eu perder, tenho tudo para ganhar?”
Sendo que o movimento é tão simples! É o mesmo que motivou o anterior, o responsável pela desarticulação do contrato social e suposto causador do sofrimento. Temos “Uma ética inteira fundada sobre o valor de troca, os desejos reprimidos, a sobrevivência, e sobre os seus opostos, a morte”.
E assim produzimos o isolamento. Nos afastamos em nome desse valor de troca que estabelece a ordem, tão necessária!
“Mas precisamos estar atentos à maneira como as “necessidades” são construídas e representadas”.
Como se estivéssemos em uma “jaula cuja porta estivesse completamente aberta” e nós não pudéssemos sair, nos mexer. Então é isso mesmo. “Teria sido anormal, impossível mesmo, sair em direção a algo que não tinha nem realidade nem importância. Absolutamente impossível, já que o único campo de experiência tolerável era o Real, que era simplesmente um instinto irresistível de fazer com que as coisas tivessem importância.”
Mas, é a vida que tem importância. O amor que existe é que tem importância. “Só se as coisas tivessem alguma importância se poderia respirar, e sofrer.”
“Estás preso à vida como numa jaula.
Estamos todos presos nesta jaula que Gagárin foi o primeiro a ver de fora e nos dizer: é azul.

E já o sabíamos, tanto que não te mataste e não vais te matar e aguentarás até o fim."

O homem está preso à vida e precisa viver.
"Há muitas armadilhas no mundo e é preciso quebra-las.”
“Estás pronto para destruir os recifes do velho mundo antes que eles afundem teus desejos? Falta aos amantes amar o seu prazer com mais conseqüência”.
Crio um mantra no qual o nome se repete. Dando voltas em círculos no ar, na areia, no tempo. No tempo, e é só mais uma ilusão minha. Mais uma tentativa de suavizar o meu isolamento. “O isolamento a dois não resiste ao isolamento de todos. O prazer desfaz-se prematuramente, os amantes reencontram-se nus no mundo, os seus gestos se tornam subitamente ridículos e sem força.”

Fragmentos retirados de Raoul Vaneigem e Avtar Brah.