"Quanto mais forte é a sua nostalgia, mais ela se esvazia de lembranças.
A gigantesca vassoura invisível que transforma, desfigura, apaga as paisagens está trabalhando há milênios, mas seus movimentos, outrora lentos, apenas perceptíveis, aceleram-se de tal modo que eu me pergunto: a Odisséia, hoje, seria concebível? A epopéia do retorno pertence ainda a nossa época?
...da primeira juventude, esse tempo encerrado, perdido, tempo abandonado, triste como um orfanato...
Quanto mais vasto o tempo que deixamos para trás, mais irresistível é a voz que nos convida ao retorno.
...aquela que tomou conhecimento do tempo, que deixou um pedaço de sua vida para trás e que pode virar a cabeça para olhá-lo.
Uma conversa contínua embala os casais, sua corrente melodiosa estende um véu sobre os desejos declinantes do corpo. Quando essa conversa é interrompida, a ausência de amor físico surge como um espectro.
...o passado que lembramos é desprovido de tempo.
Miséria e orgulho. Em cima de um cavalo a morte e um pavão. Ela está de pé em frente à janela e olha o céu. Céu sem estrelas, cobertura negra."
M. Kundera
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