terça-feira, 3 de agosto de 2010

...um peixe dentro do vento.

O que uma lagosta tece lá embaixo com seus pés dourados?
Respondo que o oceano sabe.
Por quem a medusa espera em sua veste transparente?
Está esperando pelo tempo, como tu.
Quem as algas apertam em seus braços?,
perguntas mais firme que uma hora e um mar certos?

Eu sei perguntas sobre a presa branca do narval e eu respondo contando
como o unicórnio do mar, arpado, morre.
Perguntas sobre as plumas do rei-pescador
que vibram nas puras primaveras dos
mares do sul.

Quero te contar que o oceano sobre isto:
que a vida, em seus estojos de jóias,
é infinita como a areia incontável, pura;
e o tempo, entre uvas cor de sangue,
tornou a pedra lisa, encheu a
água-viva de luz, desfez o seu nó,
soltou seus fios musicais de uma
cornicópia feita de infinita madrepérola.

Sou só uma rede vazia diante dos
olhos humanos na escuridão
e de dedos habituados à longitude
do tímido globo de uma laranja.
Caminho como tu, investigando
as estrelas sem fim e em minha rede,
durante a noite acordo nu. A única
coisa capturada é um peixe dentro do vento.

Pablo Neruda

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