sábado, 27 de novembro de 2010

Manda quem pode, obedece quem tem juízo

Na vida ou se é oprimido, ou se é opressor.
Não há outra saída, e mesmo sendo só essas as opções, não há várias maneiras. No final, ou no mais profundo existem apenas essas duas faces: opressor e oprimido.
Não existe "equilíbrio"; não há acordo e muito menos há consenso.
A vida não é simples, ela é complicada.
Nunca teremos as mesmas chances, nem os mesmos sentimentos.
Nunca sentiremos diante do mesmo episódio as mesmas emoções, e nem teremos as mesmas lembranças dele.
Nunca falaremos do mesmo lugar.
Nunca gostaremos da mesma coisa no mesmo instante e nem do mesmo jeito.
Nunca faremos o que os outros esperam que façamos, e nunca farão os outros o que gostaríamos que fizessem.
Nunca olharemos com o mesmo olhar para a mesma coisa.
Nunca nos entenderemos.
E talvez, até nunca falaremos exatamente da mesma coisa, mesmo sendo o mesmo assunto.
Seremos sempre essa incompletude.
Carregaremos sempre uma falta, que é um espaço que apenas nos pertence.
Isso é o que nos torna "eu" e Outro.
Você será sempre o meu Outro, o meu diferente.
Esse espaço é o lugar da diferença.
No mais íntimo das relações humanas resta forte a marcação: "eu" e Outro, "eu" e o diferente.
E, portanto, há sempre um opressor e um oprimido.
É o espaço da diferença que causa a tensão que sempre existirá entre, no mínimo, dois corpos.
Tensão em que um tem que ceder. Geralmente, cede o mais fraco, que tem menos poder, que é oprimido.
Cede por obrigação, cede por violência, cede com ódio, com raiva, com ressentimento e angústia.
Cede porque não há outra saída, outra opção.
Papéis que mudam de um para o outro, que são exercidos por ambos em momentos distintos.
Ora somos o oprimido, ora somos o opressor.
É essa a tensão que rege o mundo, que traz a complexidade de viver e que terrifica as relações humanas.
Manda quem pode, obedece quem tem juízo.
Ou somos os oprimidos, ou somos os opressores.

Um comentário:

  1. Realmente a diferença é o único contorno de individualidada, já que existimos apenas na relação. Mas essas diferenças, também construídas dos entrelugar das relações não precisam ser vivenciadas sob o signo da opressão. Podem ser vivenciadas sob o signo da completude, do consentimento, do amor.
    Entre os oprimidos e os opressores, há dos que amam.

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